Gaúcho de Don Pedrito, fronteira com o Uruguai, Carlos Freire mora num sítio no Morro das Pedras, Florianópolis. Publicou ano passado um livro intitulado “Babel de Idiomas”, onde traduziu para o português poemas em 60 línguas diferentes.
Se não for provado o contrário, Carlos bateu outro recorde: o do ser humano que conseguiu publicar traduzindo para sua língua materna (no caso dele, o português) poemas escritos no maior número de idiomas. O Guinness (livro de recordes) será consultado em breve para dar um parecer.
Freire despertou-se para as línguas muito cedo. Tinha um tio espanhol muito culto, que possuía uma vasta biblioteca, na qual havia muita literatura hispânica e italiana. “Eu me interessei em aprender italiano”, conta Carlos, que cedo aprendeu espanhol por viver numa região de fronteira e escutar o “portuñol”, um idioma híbrido de português e espanhol misturados com pitadas de gramática própria. No mas, Freire passou a vida viajando para estudar os idiomas. Estudou na China, Estados Unidos, Itália, Espanha, na ex-Iugoslávia, na ex-Tchecolosváquia e na ex-URSS.
Detalhe, Freire não fala 115 línguas. Isso é humanamente impossível. Haja memória! Ele fala umas 30 com ou mais ou menos razoável fluência. Na realidade, a capacidade de Freire é traduzir, com ou sem dicionário, textos nas 115 línguas que estudou. Em 2001 Freire recebeu o diploma da Universidade de Cambridge “2000 outstanding Scholars of the 21st Century in honor and outstanding in the Field of Linguistis and Education” (Dois mil notáveis intelectuais do século 21 em honra e notabilidade no campo da Lingüística e Educação).
Tem idioma que ele estudou há 30 anos e nunca mais revisou por falta de tempo porque está sempre estudando uma nova língua. E se ele deparar com o idioma estudando há muito tempo, certamente não o lembrará na hora. Ele precisa de algumas horas ou dias para relembrar a língua.
Hoje ele está “enferrujado” na língua macedônia. Mas na década de 1990, Freire surpreendeu um jornalista macedônio (da Macedônia, região da Iugoslávia) dando uma entrevista naquela exótica língua um mês depois que começou a estudar o idioma.
O professor Freire mora numa casa de dois andares com duas bibliotecas. Na do andar de baixo ficam os livros de línguas que o intelectual vem estudando e consultando mais. Na de cima está guardada a maioria de seus livros- 90% manuais de estudo de idiomas e literatura do mundo inteiro.
Na biblioteca do andar térreo, há um quadro em árabe que exprime exatamente a alma singular de Freire. Está escrito, segundo lê Carlos naquela tabuleta que o homem comum acha que é um monte de “cobrinhas amestradas” tal como parece a escrita árabe a primeira vista: “Ionain la yaîhaean talih zilm uu talih mel” (Há duas pessoas que jamais estarão satisfeitas: a que procura o conhecimento e a que procura o dinheiro”.
Uma figura notável!
Fontes: http://gibranbastos.wordpress.com, http://www.bigua.com.br